quinta-feira, 1 de maio de 2008

O poeta Drummond bem que avisou e denunciou: (Sebastião Nery

O poeta Drummond bem que avisou e denunciou:

"Sete Quedas por nós passaram/e não soubemos, ah, amá-las/ e todas sete foram mortas/e todas sete somem no ar/ sete fantasmas, sete crimes/dos vivos golpeando a vida/que nunca mais renascerá".

A hidrelétrica de Itaipu não foi gerada pela ditadura de 64. É uma história de meio século. O projeto original era outro, e como Furnas, Três Marias, tantas outras, surgiu no grande governo de Juscelino Kubitschek, para aproveitar as potencialidades de energia do Salto das Sete Quedas.

Só em 61, no governo de Jânio, JK já não presidente, o projeto ficou pronto. O autor foi o engenheiro militar Pedro Henrique Rupp. Ele propunha que o rio Paraná fosse desviado 60 quilômetros pelo interior do Paraná, acima dos Saltos do Guaíra, antes de fazer fronteira com o Paraguai. Assim, estaria garantida a integridade das Sete Quedas de Guaíra.

Marcondes Ferraz

Em 62, no governo João Goulart, o engenheiro Octavio Marcondes Ferraz atualizou o projeto original. Sabia o que fazia. Na década de 40, ele tinha sido o responsável pela construção da hidrelétrica de Paulo Afonso, a maior obra da engenharia nacional até então, contornando obstáculos quase intransponíveis e para isso desviando o rio São Francisco.

Era "uma hidrelétrica inteiramente brasileira e não binacional, através da abertura de um canal de 60 quilômetros permitindo o fluxo da água que, mais adiante, seria devolvida ao curso natural do rio, depois de construída uma usina de 10 milhões de quilowates, e assim mantida, o que era fundamental, a integridade do Salto de Sete Quedas".
Bispo Lugo

Em 73, o governo Médici decidiu fazer uma hidrelétrica binacional (Itaipu) em Foz do Iguaçu, matando as Sete Quedas: tratado com validade de 50 anos (até 2023), capital inicial de US$ 100 milhões, metade do Brasil, metade do Paraguai, mesmo assim emprestado ao Paraguai pelo Brasil.

O custo previsto da obra era de US$ 12 bilhões, financiados por bancos internacionais. No final de obra, em 84, os juros já levavam a dívida para US$ 26,9 bilhões. O Paraguai só usa 5% dos seus 50% de energia. Os 45% o Brasil compra. Só com a remuneração da energia e o pagamento de "royalties" o Brasil paga ao Paraguai US$ 375 milhões anuais.

O orçamento anual de Itaipu é de US$ 3,2 bilhões. O total da dívida aos bancos ainda é de US$ 18 bilhões e sua liquidação planejada para 2023.

O valor de mercado de Itaipu é calculado em US$ 60 bilhões: US$ 30 bilhões do Paraguai, que tem um Produto Interno Bruto de US$ 9,3 bilhões.

Se executado o projeto Marcondes Ferraz, o bispo Lugo não estaria hoje querendo
condenar o Brasil ao fogo dos infernos.

(Tribuna da Imprensa)